terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Ligeiro devaneio sobre mim mesmo.

Os dias não passaram. Eles atropelaram as metas do calendário num frenético exercício de se tornar uma máquina do tempo destruidora e automática. Não respiramos para falar, para comer, para pensar, e tudo se torna a tal da cópia, da cópia da cópia do clube da luta. E agora eu entendo melhor aquelas ideias. Agora eu entendo melhor minhas ideias e assim vou trabalhando em ideias melhores.

Só me senti satisfeito escrevendo quando parei de escrever sobre os outros e escrevi mais sobre mim. Me explorei e me exploro através da escrita.

Eu me tornei desconhecido quando me colocava a escrever sobre o que não era eu. Às vezes até pareci ser, parte de mim, ou seja lá o que pudesse ser; mas no fim das contas provavelmente não era, ou só não é mais; independente, não é mais. Posso até escrever sobre. Passado o momento então só me resta escrever sobre mim mesmo.

Até mesmo a minha angústia pouco me atrapalha pois estou dando de mim a mim mesmo. Eu desenho, escrevo, desenho, escrevo, canto; doo tudo que posso a mim. A ansiedade pode tentar me incomodar, mas meu refúgio sou eu mesmo; eu sou meu lar; e dentro desta fortaleza eu me resguardo, entro em reflexão e busco meu crescimento.

E tudo isso só é possível quando nos permitimos conhecer a nós mesmos, da forma mais profunda. Daquela de se assumir e não se importar; de agir como se é. De não ter companhia melhor que a sua própria.

Por que vivemos querendo partilhar nosso tempo com os outros?

É porque tem coisas a partilhar ou por que não consegue ficar só?

Não há tempo para temer o que nossa própria cabeça tem a nos mostrar.

Eu vivo numa enxurrada contínua de ideias e palavras lutando por um lugar, uma oportunidade de ser gravada numa folha ou num arquivo, perdendo a chance que conquistaram de serem ouvidas, ou sendo ouvidas, apenas. Eu falo comigo mesmo por tanto tempo que é inadmissível que eu não saiba lidar com todas essas situações. Eu converso tanto comigo mesmo - e estou me dando conta do quanto, realmente, e me espantando - que eu simplesmente deveria saber que preciso me policiar. Ou simplesmente me blindar da autossabotagem.

Mas isso é devaneio.

Meus demônios também gritam por aqui.

Mas eu estou aprendendo a ouvir mais a mim do que à eles; é cansativo, mas só me policiando para não surtar, entrar em crise.

Mas afinal de contas, detalhes à parte, o ano está acabando bem.

Cautela e paciência. Tudo vai se ajeitando.

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